NEMATOIDES: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO

NEMATOIDES: CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA ERA DO CONHECIMENTO

AGRICULTURA 4.0

O título desta coluna foi o tema do 37º Congresso Brasileiro de Nematologia, realizado no início
de agosto, em Ribeirão Preto/SP, promovido pela Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN) e organizado pela Unesp (Jaboticabal/SP e Botucatu/SP), Esalq/USP, Instituto Agronômico,
Instituto Biológico e Faculdade de Tecnologia Shunji Nishimura, de Pompeia/SP. Foram quatro dias de apresentações de atualidades, inovações e principais tendências do manejo dessa importante praga da agricultura brasileira e mundial. O evento contou com a participação de
mais de 900 pessoas nas modalidades presencial c remota. Nesse sentido, na abertura da atividade, o presidente da SBN, Dr. César Bauer, destacou a reunião de nematologistas deste ano como sendo o maior evento da história da área no Brasil.

O evento contou com mais de 50 atividades, 210 trabalhos científicos apresentados e discutidos, envolvendo dinâmica nas palestras que promoveu o debate de pesquisadores, extensionistas,
empresas, agrônomos, consultores e produtores.

A palestra de abertura, proferida pelo phd. Tsen Kang Chung, diretor de
novação do Grupo Jacto, tratou diretamente do tema do evento, provocando os participantes na difícil, mas necessária, missão de transformar os artigos científicos em nota fiscal (startups). para que a inovação científica realmente aconteça no Brasil. E, assim, possa gerar riquezas,
uma vez que somos o oitavo país no mundo em publicações científicas e o 70º em inovação, inclusive perdendo nesse quesito para vários países vizinhos da América Latina. Um país como o
nosso, com essa magnitude e sendo líder na agricultura tropical, tem que inovar mais e construir as soluções tecnológicas para o agronegócio praticado no mundo entre os trópicos.

A formatação de interação entre empresas, produtores e pesquisadores trouxe uma visão mais pragmática do problema, confrontando aquilo que vem sendo pesquisado com o que tem sido utilizado no manejo dos nematoides. Assim, foi possível constatar temas avançados para a nematologia, como a edição gênica de plantas para a resistência, ferramentas de diagnóstico rápido e preciso das espécies dos nematoides como a tecnologia Lamp (Loop-media-ted isothermal amplification), desenvolvida na Universidade Federal de Viçosa/MG, bem como o uso da eletricidade para o controle dos nematoides.

Em contraponto, houve a apresentação das principais práticas que agricultores e técnicos têm utilizado no dia a dia no manejo nematológico. Desde técnicas mais antigas, como o alqueive
e a rotação de culturas, até técnicas mais avançadas, como o emprego da tecnologia embarcada em máquinas e equipamentos para a aplicação de diferentes insumos no mesmo manejo, em
taxa variável ou otimizadas nas áreas afetadas, eles apresentaram o conceito de manejo tecnológico integrado de nematoides (MTIN).

Vale destacar também a participação das empresas de insumos, que apresentam lançamentos de serviços e diversas opções de nematicidas – químicos e

“Um pais como o nosso, com essa magnitude e sendo líder na agricultura tropical, tem que inovar mais e construir as soluções tecnológicas para o agronegócio praticado no mundo entre os trópicos”

biológicos -, mostrando que estão investindo na área e empenhadas em oferecer boas opções de produtos mais eficientes e sustentáveis aos seus clientes.

Na parte científica, percebeu-se um crescente interesse pelos nematoides, provavelmente impulsionado pelas estimativas da SBN de que esses organismos já causem um prejuízo de mais de R$ 70 bilhões na agricultura brasileira.

Como tradicionalmente ocorre, os melhores trabalhos foram premiados com certificações que levam os nomes de importantes nematologistas brasileiros, como o “Dr. Anário Jahen” para
estudantes de graduação, “Dr. Dimitry Tihohod” para estudantes de pós-graduação e o prêmio “Wilson Novareti” para a melhor fotografia temática.

Receberam os prêmios de graduação o trabalho “Reação de coberturas vegetais a Meloidogyne incognita e M. javanica”, apresentado por Flávio Henrique Alves da Silva e o “Detecção de sintomas reflexos causados por nematoides em soja através de imagens de sensor multiespectral”, de autoria de Pedro Paulo Monteiro Borges Duarte. Na categoria de pós-graduação, foram premiados três trabalhos: Paulo Victor Magalhães Pacheco — “Pochonia chlamydosporia emite compostos voláteis que atraem e matam Meloidogyne incognita”; Angélica Miamoto — “Macrotyloma axillare ‘java’ apresenta respostas estruturais e bioquímicas contra Meloidogyne javanica” e Wellington Rodrigues da Silva — “Interação entre Pratylenchus
brachyurus e Ilyonectria macrodidyma em genótipos de videira”.

Outra láurea concedida, no evento, pela SBN foi para a pesquisadora Dra. Regina Gomes Carneiro. Ela recebeu o honroso prêmio Luiz Gonzaga Lordello considerado o pai da nematologia no Brasil – que é oferecido ao nematologista de grande carreira e relevância na área, ainda em atividade e indicado pelos seus pares. Muito merecida essa premiação
concedida à Dra. Regina pelos grandes feitos realizados na nematologia, com mais de 100 trabalhos científicos publicados, dentre eles, a descrição da nova espécie de nematoide Meloidogyne paranaenses, em 1996.

Aqueles que não conseguiram participar do 37º Congresso Brasileiro de Nematologia podem ter acesso às palestras fazendo a inscrição e o pagamento de uma taxa pelo site do evento
https://37cbn.com.br. As palestras foram todas gravadas e ficarão disponíveis por até seis meses. Esta é uma ótima oportunidade para conhecer as melhores inovações e as tecnologias aliadas ao manejo integrado de nematoides.

Fonte: Revista A Granja – Total Agro – Setembro/2022 nº885 Ano 78

Carlos Eduardo de M. Otoboni

Professor da Fatec e Pesquisador do Laboratório de Monitoramento e Proteção de Plantas – LMPP