Marisa Faulin
AGRICULTURA 4.0
A tecnologia está cada vez mais presente nas propriedades agrícolas e nas mãos de quem trabalha no campo. O uso de smartphones com mais funcionalidades nos deixou mais adeptos às tecnologias, sem tanto medo de utilizar algo mais tecnológico, “novo”, e este é um caminho sem volta. A agricultura brasileira é muito mais complexa do que em outros países. O Brasil tem um clima tropical, por isso o número de pragas e doenças nas culturas é bem diferente dos países de clima temperado, que ficam uma parte do ano cobertos com neve. Além disso, o cultivo brasileiro é diferenciado, as culturas são plantadas uma seguida de outra, o ano todo com produção para alcançar a eficiência máxima. Assim, ter mais soluções que auxiliem o produtor na tomada de decisão é de fundamental importância.
É inegável que a tecnologia auxilia em várias etapas. As vezes, corrige erros que o ser humano não consegue deixar de fazer, como no caso da correção de profundidade na operação de plantio. E, em outros casos, gera dados que passam imperceptíveis ao olhar humano. Mas, quando estes são analisados, tem-se a confirmação de erros que podem ser corrigidos durante o processo ou numa próxima oportunidade. Porém, não podemos nos esquecer que muitos fatores envolvidos neste processo não fazem parte da tecnologia em si. Portanto, existe tecnologia, mas também existe a planta a ser trabalhada. Algumas pessoas colocam a tecnologia como a “salvação da lavoura”, porém nem sempre é assim.
Um ponto principal que não deve ser esquecido é que trabalhamos com agricultura bem-feita, que observa as características e necessidades de cada cultura e região em que está inserida. Também não se pode esquecer que cada produtor tem sua particularidade, tanto agronômica quanto tecnológica. Vale ressaltar aqui que a eficiência da produção depende dessa articularidade, e que a melhoria de cada produção é única, ao observar os fatores e as características citados anteriormente.
Ou seja, muitas vezes se coloca a expectativa na tecnologia, quando, na verdade, ao se adequar agronomicamente o que já se faz ou se tem na propriedade, o produtor consegue aumentar sua eficiência e, assim, a cada ciclo, aprimorar suas particularidades. Esta é a grandeza da agricultura: é possível melhorar sempre! É trabalhosa? Sim, mas é gratificante. Lembrem-se que a agricultura de precisão nada mais é do que um sistema de gestão diferenciado da propriedade. Pois bem! podemos traduzir como ter um “olhar cuidadoso” com a produção agrícola, observando e trabalhando diferentemente as diversidades encontradas no solo, na cultura, no maquinário, etc.
“Um ponto principal que não deve ser esquecido
é que trabalhamos com agricultura bem-feita,
que observa as características e necessidades
de cada cultura e região em que esta inserida”
Apenas como reflexão, ao analisar uma propriedade eficiente, verifica-se que a parte relacionada à agricultura está de acordo, observando os fatores importantes, respeitando as variáveis agronômicas de cada cultura para determinada região. Portanto, nessa situaçăo em que se tem conhecimento agronômico adequado, ao adotar as tecnologias, é alcançado um patamar maior. Mas, em outra situação, o produtor investe que em algum tipo de tecnologia sem observar erros no processo de producão, como não regular e calibrar de maneira adequada os equipamentos já existentes na propriedade. Imagine um produtor que tenta aumentar a produtividade, mas, no momento do plantio, coloca a semente na profundidade errada e a plântula acaba morrendo. No caso dessa planta, a eficiência foi zero, porque perdeu-se o indivíduo de trabalho.
Num outro exemplo, o produtor observa que, em determinado local da propriedade, sempre produz menos e, ao invés de uma amostra de solo para toda a propriedade direciona duas ou mais amostras a mais nesses locais. Perceba que esse produtor já melhorou o entendimento da propriedade e vai trabalhar de forma diferente em cada area. Nessa situação, não entrou tecnologia nenhuma, mas princípios agronômicos, e tem-se aqui um puro exemplo de agricultura de precisão, na qual o gasto a mais foi apenas da amostragem de solo. A partir disso, supondo que o produtor tenha uma maquina sem tecnologia embarcada, teriam duas calibrações ou velocidades diferentes para a operação adubação Desse modo, como visto nesses exemplos, é necessário um olhar cuidadoso na gestão como um todo, em cada processo.
Entender o processo agronômico que será realizado é importante, e, assim, pode-se melhorar ainda mais o sistema produtivo. Por isso, buscar o conhecimento se faz necessário sempre, em qualquer nível que esteja. O papel dos extensionistas nessa situação è importante, assim como cursos de extensão, de graduação e inclusive, para aqueles que gostam do meio acadêmico, de pós-graduação. Dessa maneira, cada vez mais, juntos, cada elo da produção agrícola se fortalece, vencendo desafios, superando obstáculos, a fim de promover a produção agrícola, de impulsionar o nosso pais, e de favorecer o bem-estar no meio agro.
Professora, doutora e coordenadora do curso de Mecanização em Agricultura de Precisão da Fatec Shunji Nishimura
Fonte: Revista A Granja – Atuante, Atualizada, Agrícola – Fevereiro/2022 nº878 Ano 78